Guiana Brasileira: A História Esquecida do Norte do Brasil

Guiana Brasileira: A História Esquecida do Norte do Brasil


A maior parte dos brasileiros conhece o estado do Amapá por sua biodiversidade e por abrigar o ponto mais ao norte da região Norte do país. Mas o que poucos sabem é que este território já foi uma terra em disputa internacional. Antes de se tornar oficialmente parte do Brasil, ele foi conhecido como Guiana Portuguesa e, por um breve período, como Guiana Brasileira. Essa história vai muito além de memes com Portugal, como ocorrem atualmente — ela envolve guerras, diplomacia e redefinição de fronteiras.

 

O que era a Guiana Portuguesa?
O que era a Guiana Portuguesa?

O que era a Guiana Portuguesa?

Durante os séculos XVI e XVII, Portugal e França se enfrentavam indiretamente na América do Sul pela posse das regiões ao norte da atual Amazônia brasileira. Portugal estabeleceu presença em parte do que hoje é o estado do Amapá e o oeste da atual Guiana Francesa, chamando a região de Guiana Portuguesa.

A região era rica em recursos naturais e estrategicamente localizada entre o rio Oiapoque (Brasil) e o rio Maroni (atualmente na Guiana Francesa).

 

A Guiana Brasileira
A Guiana Brasileira

A Guiana Brasileira: quando o Brasil governou um território francês

Durante as Guerras Napoleônicas, no início do século XIX, o Brasil viveu um momento curioso e pouco conhecido: governou por quase uma década o território da Guiana Francesa, sob o nome informal de Guiana Brasileira. Esse episódio ocorreu entre 1809 e 1817, e é uma das passagens mais intrigantes da história diplomática e militar brasileira.

Em 1807, Portugal foi invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte. A família real portuguesa, com apoio da Inglaterra, fugiu para o Brasil, estabelecendo o governo da monarquia em território brasileiro. Em meio ao conflito, os britânicos e portugueses decidiram atacar a Guiana Francesa, colônia então aliada de Napoleão.

Em janeiro de 1809, uma expedição luso-brasileira, liderada pelo brigadeiro Manuel Marques, com apoio da Marinha britânica, invadiu e conquistou Caiena, a capital da Guiana Francesa. As tropas partiram do Grão-Pará e incluíam soldados brasileiros. A operação foi rápida e bem-sucedida.

 

A Guiana Francesa sob administração do brasil
A Guiana Francesa sob administração do brasil

A Guiana Francesa sob administração do brasil

Após a ocupação, a Guiana Francesa passou a ser administrada pelo Brasil em nome de Portugal. O território ficou sob o comando do governador do Grão-Pará, funcionando como uma espécie de extensão do norte da colônia brasileira. Foi nesse período que alguns documentos e cronistas passaram a se referir à região como “Guiana Brasileira” — embora esse nunca tenha sido um nome oficial.

Durante a administração brasileira, houve adaptação de leis, moeda e sistema de organização típicos do Brasil colonial, e até o português passou a ser usado mais amplamente.

 



 

O tratado de Viena e a devolução à França

Com o fim das Guerras Napoleônicas e a assinatura do Congresso de Viena em 1815, Portugal foi pressionado a devolver a Guiana Francesa à sua antiga metrópole. Em 1817, a região foi entregue de volta aos franceses, encerrando o período da ocupação. No entanto, as disputas territoriais não terminaram aí.

 



 

Do limite ao conflito: o caso do “contestado”

Durante o século XIX, os limites entre Brasil e Guiana Francesa continuaram mal definidos. A área entre o rio Oiapoque e o rio Araguari ficou conhecida como “Território do Contestado”, pois tanto França quanto Brasil reivindicavam sua posse.

Esse impasse levou a um dos episódios mais curiosos da diplomacia brasileira: o caso do Barão do Rio Branco. Em 1895, a França ocupou a região, e o Brasil protestou. A disputa foi levada para arbitragem internacional, sendo julgada na Suíça.

 

A vitória diplomática brasileira em 1900

Com argumentos históricos sólidos e mapas antigos apresentados pelo Barão do Rio Branco, o Brasil venceu a arbitragem em 1º de dezembro de 1900. A decisão foi favorável ao Brasil, fixando o rio Oiapoque como fronteira entre os dois países.

Assim, a antiga “Guiana Portuguesa” foi oficialmente incorporada ao Brasil — mas ainda levaria tempo para se organizar administrativamente.

 

O surgimento do território federal do Amapá
O surgimento do território federal do Amapá

O surgimento do território federal do Amapá

Somente em 1943, durante o governo de Getúlio Vargas, o território foi oficialmente nomeado como Território Federal do Amapá, deixando para trás o nome de “Guiana Brasileira” de vez. Em 1988, com a nova Constituição, o Amapá finalmente se tornou um estado brasileiro.

 



 

O significado e a origem do nome “Amapá”

Pouca gente sabe, mas o nome Amapá tem raízes indígenas. Acredita-se que ele venha do termo tupi “ama’paba”, que significa “lugar da chuva” ou “ilha que chove”, uma referência direta ao clima da região, conhecido pelas chuvas frequentes e abundantes. Outra versão relaciona o nome à árvore amapá ou amapazeiro, nativa da Amazônia e conhecida pelo látex branco com propriedades medicinais.

O nome foi utilizado de forma não oficial ao longo do século XIX, mas só se tornou oficialmente adotado em 1943, com a criação do Território Federal do Amapá.

 



 

Legado e curiosidades

A cidade de Oiapoque carrega até hoje marcas da disputa com a Guiana Francesa, sendo uma das fronteiras mais vigiadas do Brasil. Existem documentos históricos e mapas do século XVIII e XIX que mencionam a “Guiana Portuguesa” como entidade distinta das Guianas Inglesa e Holandesa e documentos portugueses que chamam a região de “Guiana Brasileira”.

Apesar de esquecida, a “Guiana Brasileira” é um exemplo claro de como fronteiras na América Latina foram moldadas por guerras, acordos e diplomacia.

 



 

conclusão

A história da Guiana Brasileira — e, por consequência, do Amapá — é um lembrete poderoso de como o Brasil foi sendo construído não apenas com batalhas e armas, mas com acordos internacionais, negociações e estratégia diplomática. Uma história rica, complexa e muitas vezes deixada de lado, mas que merece ser redescoberta principalmente em tempos com o “meme da Guiana Brasileira e Portugal”.

Alex Sandro

Alex Sandro

Publicitário formado pela FURB e autor de Mega Interessante. blogueiro desde os 13 anos. Amante do cinema, geek e rock n' roll.

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